Bethlehem a Brasilia, 1 decembris A.D. 2019
Por Pe. Ivan Chudzik, IBP.
Resoluções para o Advento
“Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação.” (Lc. XXII, 28)
Ave Maria.
Divino Menino Jesus.
Nossa Senhora do Rosário
Santo Antônio de Lisboa.
Caros fiéis, muito se fala atualmente a respeito do fim dos tempos e da vinda do Anticristo. A razão para tanto temor, sem dúvidas, são os castigos que a sociedade está para receber por causa deste dilúvio de pecados que inunda a terra. É certo que Nosso Senhor irá cessar os pecados da sociedade através de um castigo. Mas se a sociedade será castigada, talvez não tenhamos tempo até lá para emendar a própria vida—fazendo penitência e adquirindo os méritos da vida virtuosa e devota. Como não sabemos quanto tempo ainda nos resta até o castigo, então nos preocupamos em que estado a morte nos encontrará quando chegar o fim. Talvez não tenhamos tempo para emendar a própria vida e sequer os meios para fugir dos sofrimentos, pois se Deus castigar a humanidade pecadora e apóstata, a riqueza se reduzirá em pobreza, a saúde se consumirá em doenças, a segurança e o bem-estar darão lugar ao temor e à instabilidade. Se houver a falência do sistema financeiro mundial, se houver uma guerra, uma perseguição violenta, se houver catástrofes naturais não sabemos como nem quando, não conhecemos as circunstâncias deste castigo, mas podemos desde já admitir que da mão de Deus ninguém escapará a não ser os que pedirem fervorosamente a Sua graça e a Sua misericórdia; e o fervor é um estado de alma que não se adquire sem um certo esforço e não na iminência de um castigo.
Tememos o fim dos tempos porque tememos os castigos. E por que tememos os castigos, nós que estávamos aqui há um ano, ouvindo o mesmo Evangelho do fim do mundo e ouvindo a Igreja preparar-nos para a segunda vinda de Cristo? Devemos reconhecer, caros fiéis, que enquanto nós temos a curiosidade das profecias e dos sinais—e que isso não passa frequentemente de uma vã curiosidade—, a Igreja, por outro lado, prefere nos santificar para estarmos preparados quando estes sinais aparecerem e o Anticristo se apresentar. A Igreja, nossa Mãe e Mestra, prefere nos santificar antes do fim, enquanto nós, contra toda prudência, preferimos apenas especular a respeito do fim. E não apenas a respeito do fim dos tempos, porque a vã curiosidade é insaciável e não tardará para que certas questões espinhosas de Fé e de Moral sejam também objeto de curiosidade.
Caros fiéis, se empregamos muito tempo estudando questões de Fé que não convém ao nosso estado de vida e que não raramente roubam o tempo devido aos deveres de estado, se especulamos avidamente sobre o fim dos tempos e as profecias, então nossa vida católica é semelhante ao sono. Quem dorme não está morto; mas apesar de não estar morto, quem dorme não age, apenas pensa que age por causa dos sonhos. Do mesmo modo, quem estuda o que não lhe convém pensa que faz algo de bom, pensa que vive a vida católica, mas isso não passa de um sonho, quer dizer, de uma ilusão, porque conhecer muito sobre a doutrina e perscrutar as profecias não implica em ter uma vida católica. O estudo pode não estar acompanhado das boas obras, que é a vida virtuosa e devota. Portanto, tal estudo não passará de uma vã e perigosa curiosidade: de nada adianta saber tanto a respeito de Teologia se não vivemos a vida católica. O demônio não se aflige com nossas especulações de Teologia se com isso consegue manter-nos longe da oração e da prática das virtudes.
A vã curiosidade da Teologia ou das profecias, antes mesmo de paralisar a prática católica, priva a alma do bom senso, porque enquanto um católico se preocupa demasiadamente em conhecer muito, ele não se importa em aplicar, em viver aquele pouco que já conhece. E porque um católico não aplica aquilo que já conhece, a sua inteligência em questões de Fé é abominável aos olhos de Deus, porque ele mesmo não saboreia aquilo que conhece, ele não tem Fé sobrenatural naquilo que conhece, uma vez que seus conhecimentos não se convertem, não se traduzem em atos de Fé e de Caridade. É uma tragédia, portanto, quando Nosso Senhor Se afasta daqueles que pretendem conhecê-Lo sem reverência, daqueles que se servem da Teologia para qualquer outro fim que não seja a vida virtuosa e devota. Nosso Senhor disse: “Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Lc. X, 22) Conhecer a Deus, caros fiéis, é antes de tudo uma graça, amar a Deus é uma graça: se Nosso Senhor não nos revelar o Pai não será a vã curiosidade em Teologia que nos conduzirá até Deus.
Além disso, enquanto um católico se preocupa demasiadamente em considerar o fim dos tempos, ele não percebe que sua vida pode se findar antes de qualquer castigo para a humanidade, antes da vinda do Anticristo, antes do fim dos tempos. A vã curiosidade das profecias faz com que tantos católicos se preocupem mais em acumular alimentos, para formar uma provisão doméstica em caso de fome, peste ou de guerra, do que rezar com confiança a Deus, que nos proíbe de nos preocuparmos demasiadamente com o dia de amanhã. São Paulo disse: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças.” (Fl. IV, 6) A vã curiosidade das profecias faz com que tantos católicos vivam a Fé como se ela não passasse de um combate entre Deus e o demônio, quando, na verdade, a vida de Fé é primeiramente a prática de tudo aquilo que nos une a Deus, nossa felicidade, nosso amor, nossa paz. E movidos pela vã curiosidade das profecias, muitos católicos dão menos importância à vida de oração, à frequência aos Sacramentos e à prática das virtudes para se preocuparem demasiadamente com os sacramentais, como se a água, o sal, as velas e as medalhas fossem objetos mágicos, como se a eficácia dos objetos bentos contra a ação do demônio não dependesse do nosso fervor.
Caros fiéis, devemos ouvir atentamente o que São Paulo disse na epístola da Missa: “Já é hora de despertardes do sono.” (Rom. XIII, 11) Já é hora de nós despertarmos do sono, porque, se há um ano estávamos aqui, ouvindo o mesmo Evangelho do fim do mundo e ouvindo a Igreja preparar-nos para a segunda vinda de Cristo, então faz um ano pelo menos de nossa vida que aproveitamos mal as graças do Advento, do Natal, da Quaresma, da Semana Santa, da Páscoa, do Pentecostes e das festas de Nossa Senhora e dos Santos. Faz pelo menos um ano que a Igreja quer fazer-nos santos e nós ainda dormimos, dormimos o sono de nossas ilusões na vida espiritual, especialmente a ilusão da vã curiosidade.
Devemos despertar do nosso sono, caros fiéis, porque São Paulo acrescenta: “A salvação está mais perto do que quando abraçamos a fé.” (v. 11) Se perdemos tantas graças no último ano litúrgico, devemos agora ganhar este, que pode ser o nosso último. Se perdemos tempo considerando os acontecimentos futuros, devemos agora preocupar-nos mais com o presente. Se perdemos tempo em especulações teológicas, devemos agora viver a vida católica.
Para tanto, caros fiéis, façamos nossas resoluções para este começo de ano litúrgico. Façamos a resolução de não mais faltar à Missa de domingo e dos dias santos, porque até hoje soubemos fazer grandes sacrifícios para não perdermos os eventos da sociedade, mas não tivemos o mesmo zelo quando se tratava da casa de Deus e do culto de Deus. Façamos, portanto, a resolução firme e séria de não mais faltar à Missa de preceito sempre que for possível cumpri-lo.
Façamos, em seguida, a resolução de não mais comungar em estado de pecado grave, porque até hoje o respeito humano ou o relaxo da consciência nos levou a receber sacrilegamente o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor. Afastado todo risco de escrúpulo, sejamos sinceros diante de Deus e tenhamos pena de nossa própria alma, evitando este horrível pecado. Façamos, portanto, a resolução firme e séria de não mais comungar em estado de pecado mortal.
Façamos também a resolução de frequentar mais vezes o Sacramento da Confissão, porque até hoje permitimos que os vícios se enraízem e cresçam em nossa alma por falta do Sacramento da Confissão e do combate espiritual. Não é conveniente que um católico se confesse menos que uma vez ao mês, não faz uma boa Confissão quem se apresenta no confessionário sem ter feito um diligente exame de consciência e sem ter se preparado para a Confissão pela oração. Façamos, portanto, a resolução firme e séria de frequentar mais vezes o Sacramento da Confissão.
Façamos, além disso, a resolução de rezar mais, porque rezar à noite não basta, rezar umas poucas orações pela manhã não basta, e rezar o terço do Rosário sem atenção, sem devoção e sem nenhum esforço de meditação o torna pouco ou nada eficaz. A oração é um colóquio com um amigo que nos ama imensamente, e ninguém pode se apresentar triste ou contrariado diante daquele que é o amigo mais íntimo e mais amante da nossa alma, o próprio Deus. Façamos, portanto, a resolução firme e série de ter vida de oração e de aprender a prática da meditação.
Façamos, por fim, a resolução de assistir mais vezes ao Santo Sacrifício da Missa, para que não nos falte esta consolação nas dificuldades e tentações, especialmente na hora da morte. Nada nos consolará mais na hora da morte do que a lembrança do número incontável de Missas que assistimos. Façamos, portanto, a resolução firme e séria de assistir mais vezes ao Santo Sacrifício da Missa.
Mas também não esqueçamos de fazer do Advento, deste tempo litúrgico da preparação para o Natal, uma espécie de retiro. Se quisermos receber a graça que os pastores receberam na noite do Natal, isto é, se quisermos ser convidados pelos Anjos para entrarmos mais intimamente na presença do nosso Salvador, se quisermos que Ele venha a nascer em nossa alma, devemos tomar uma maior distância das vaidades do mundo. Façamos todos, como um propósito de penitência para o Advento, o esforço de usar menos o celular até o Natal. Não podemos calcular o quanto será salutar renunciar a alguma rede social, limitar os horários de leitura de mensagens, renunciar à maior parte das publicações que costumamos fazer, não usá-lo durante as refeições ou não visualizar mensagens antes de ter feito—e bem feito—a oração da manhã. Veremos em pouco tempo o quanto já estamos apegados ao celular, o quanto ele já é um vício.
Então que este seja o nosso presente ao Menino Jesus: um coração menos apegado ao mundo e à sua vaidade, um coração mais atento à voz da graça, que nos fala por meio de sussurros cheios de doçura e suavidade.