Bethlehem a Brasilia, 2 novembris A.D. 2019
Por Pe. Ivan Chudzik, IBP.
A cada dia, como se fosse o último
“Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás.” (Eclo. VII, 40)
Caros fiéis, e se hoje fosse o fim? E se hoje fosse o nosso último dia? A pergunta não é retórica, não é uma mera especulação. Nós temos ciência de que cada dia pode ser o último, de que basta estar vivo para morrer, de que estamos no dia de hoje mais próximos da morte do que ontem. Portanto, não é ocioso perguntar algo que não é uma mera especulação, uma mera hipótese. E se hoje fosse o fim? E se hoje fosse o nosso último dia?
Se hoje fosse o fim, se ao término das cerimônias alguém viesse a falecer subitamente ao cruzar a porta da igreja, talvez uma alma encontraria a eternidade em estado de pecado. Mas como é possível que a morte encontre um católico de saída de uma cerimônia da Igreja em estado de pecado? Não viemos à igreja para procurar a conversão, a emenda de vida, a penitência dos pecados? Se a isto viemos, como podemos sem isto nos retirarmos da igreja? Viemos à procura da conversão e sairemos sem a graça? Viemos à busca da emenda de vida e sairemos obstinados? Viemos para nos propormos à penitência e sairemos impenitentes, ou melhor, presunçosos de que haverá tempo, mas que este tempo não é hoje, é outro dia? Então a quê viemos, se daqui podemos sair piores do que entramos, cegos e surdos à graça dos Sacramentos, às cerimônias da Igreja e à pregação do sacerdote? Se hoje fosse o fim, caros fiéis, talvez uma alma encontre a eternidade tristemente em estado de pecado.
Se hoje fosse o fim, se ao término das cerimônias alguém viesse a falecer subitamente ao cruzar a porta da igreja, talvez uma alma encontraria a eternidade repleta de vícios, vícios que ameaçaram sem trégua o estado de graça, vícios que tornaram penosa e exaustiva a prática das virtudes, de modo que sempre foi mais fácil, ao longo da vida, precipitar-se constantemente no pecado do que resistir-lhe e combatê-lo com paciência e fortaleza. Mas como é possível que a morte encontre um católico de saída de uma cerimônia da Igreja com alma repleta de vícios? Não viemos à igreja para procurarmos o remédio da Confissão sacramental e o alimento da Santíssima Eucaristia? Não viemos à igreja para nos unirmos à Paixão de Nosso Senhor, ao mistério do Santo Sacrifício da Missa, a fim de pagarmos tanto amor pelo menos com um pouco de amor? Não viemos à igreja para ouvirmos do sacerdote pregador aqueles conselhos e exortações, sem os quais não perceberemos o combate espiritual em nossa alma e nem tomaremos as armas espirituais para resistir ao vício e combatê-lo sem trégua? Se a isto viemos, como podemos sem isto nos retirarmos da igreja? Viemos para nos confessarmos e sairemos com o medo ou a vergonha de expor certas matérias ou certos pecados ao confessor? Viemos para comungar e sairemos sem Comunhão ou talvez, o que é abominável, com uma Comunhão sacrílega? Viemos para nos unirmos ao Santo Sacrifício da Missa e não fizemos mais do que nos distrairmos ao longo das cerimônias, sem tomar nenhum ponto da Liturgia para fazer um esforço de meditação? Viemos para ouvir a prédica do sacerdote, mas julgamos que suas palavras não eram do nosso interesse, não traziam nenhuma novidade e por isso não quisemos ouvi-lo com atenção? Então a quê viemos, se daqui podemos sair piores do que entramos, cegos e surdos à graça dos Sacramentos, às cerimônias da Igreja e à pregação do sacerdote? Se hoje fosse o fim, caros fiéis, talvez uma alma encontre a eternidade tristemente repleta de vícios.
Se hoje fosse o fim, se ao término das cerimônias alguém viesse a falecer subitamente ao cruzar a porta da igreja, talvez uma alma encontraria a eternidade sem ter combatido heroicamente as tentações, praticado heroicamente a virtude e se dado longamente à oração e à mortificação. Mas como é possível que a morte encontre um católico de saída de uma cerimônia da Igreja com alma tíbia, porque procurou viver em graça mas não quis se dar a Deus de todo o seu ser, procurou viver em graça mas teve medo de perder o controle sobre a própria vida, o domínio das circunstâncias, não aceitando certas cruzes que a Providência lhe enviou? Não viemos à igreja para nos identificarmos ao Cristo crucificado, que renova o Seu Sacrifício na Santa Missa? Não viemos à igreja como quem sobe ao Calvário—porque a Missa é o Calvário—não viemos, portanto, à igreja como quem sobe ao Calvário? Não viemos à igreja para que Nossa Senhora das Dores crave uma espada de amor e de dor em nossa alma, a fim de que nosso coração arda em resposta àquele Coração que nos amou até a última gota de sangue, até o último suspiro? Se a isto viemos, como podemos sem isto nos retirarmos da igreja? Quisemos subir ao Calvário mas para olhar com frieza o divino Crucificado, como aqueles que dEle zombavam? O amor de Nosso Senhor não nos convenceu, não nos comoveu, não nos incomodou? Encontramos, por acaso, um outro sentido para a vida, uma outra felicidade que a visão da glória, para participarmos do Santo Sacrifício quase sem o desejo de fazer-nos santos e de sermos santos o quanto antes? Então a quê viemos, se daqui podemos sair piores do que entramos, cegos e surdos à graça dos Sacramentos, às cerimônias da Igreja e à pregação do sacerdote? Se hoje fosse o fim, caros fiéis, talvez uma alma encontre a eternidade tristemente acorrentada à tibieza.
Mas se sabemos que hoje poderia ser o fim, que este dia poderia ser o último, como explicar que as almas católicas, ou seja, aquelas almas que conhecem a Deus, como explicar que as almas católicas se precipitem nos pecados mortais, não se importem com os pecados veniais e sejam tão indiferentes à vida de oração, à prática das virtudes e à mortificação? A causa de tanta indiferença ao amor de Deus, caros fiéis, é que, apesar de sabermos que hoje poderia ser o fim e que este dia poderia ser o último, vivemos como se o amanhã estivesse garantido, como se dispuséssemos de todo o tempo que quisermos para abandonar o pecado e retomar a vida espiritual. A causa de tanta indiferença ao amor de Deus é a nossa presunção de que Nosso Senhor não pode interferir em nossa vida, que Ele não pode nos punir com castigos e principalmente com a morte enquanto nós ainda encontramos algum ganho no pecado. A causa de tanta indiferença ao amor de Deus, portanto, é a nossa presunção, e a presunção é filha do orgulho, do alto conceito que temos de nós mesmos, que nos leva a agir como se fôssemos imortais, como se tivéssemos direito ao pecado, como se não fôssemos prestar contas de nossa vida ao nosso Criador, como se a nossa vida nos pertencesse, como se Nosso Senhor estivesse a nosso serviço e não nós a serviço dEle.
Caros fiéis, olhemos para este catafalco, que a tradição também chama de castrum doloris, isto é, castelo de dor. Olhemos para este catafalco para acordarmos do sono dos nossos pecados e da paralisia da nossa tibieza. Olhemos para este catafalco, para reconhecermos que uma parte considerável da nossa vida não valeu absolutamente nada para a nossa eternidade, ou melhor, impediu-nos de adquirir méritos para a nossa coroa da glória. Olhemos para este catafalco, para contemplar o que vale tanto orgulho, tanta vaidade, tanta aparência, se iremos, um dia, viver aquelas palavras de Jó: “A região dos mortos é a minha morada! Preparo meu leito no local tenebroso. Disse [eu] ao sepulcro: ‘Tu és meu pai’, e aos vermes: ‘Vós sois minha mãe e minha irmã!” (Jó XVII, 13-14)
Dora diante, caros fiéis, devemos tomar por regra de vida aquelas palavras de São Luís Gonzaga, que a cada decisão, pequena ou grande, dizia a si mesmo: “de quê serve isto para a eternidade?” É diante da eternidade que nossas ações adquirem valor, não diante dos homens, não diante da vaidade do mundo, que passa como o vapor que se dissipa no ar.
Caros fiéis, não praticaremos nenhuma caridade para com as almas dos fiéis defuntos sem antes termos praticado a caridade para conosco. Sem a nossa conversão não poderemos aliviar os sofrimentos daquelas almas. Peçamos, portanto, a Nosso Senhor, para que não nos dê hoje a morte, mas faça morrer em nós tanta soberba, tanto orgulho, tanta vaidade.