Sermo in XXIV dominica post Pentecosten
Bethlehem a Brasilia, 25 novembris A.D. 2018
O Corpo eucarístico e o Corpo místico, refúgios dos eleitos
A descrição da tribulação final, por causa da apostasia e dos fenômenos naturais que precederão a segunda vinda de Nosso Senhor, faz passar despercebida uma oposição contida no relato. Por um lado, o Salvador diz: “[…] se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais.” (Mt. XXIV, 23); e alguns versículos depois: “Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.” (v. 26) Por outro lado, Nosso Senhor acrescenta: “Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.” (v. 28), apesar de a Vulgata de São Jerônimo preferir dizer: onde houver o corpo, aí se juntarão as águias. Em outras palavras: ainda que alguns tenham uma doutrina e façam prodígios semelhantes aos do Cristo, aqueles que pertencem a Nosso Senhor—cuja imagem é o abutre ou a águia—não tardarão em reconhecer que estes sinais não vêm de Deus, razão pela qual não devem seguir os falsos profetas e os falsos cristos. O que atrai o abutre e a águia é o corpo, e em torno do corpo estas aves se reúnem. Devemos, portanto, perguntar-nos o que é este corpo que atrai as águias, isto é, os fiéis, em torno do qual estarão protegidas da grande tribulação final.
O primeiro sentido do “corpo” não pode ser outro senão a Eucaristia, que é o Corpo sacramental de Nosso Senhor. São Jerônimo, ao comentar este Evangelho, diz que o corpo, ou melhor, o “cadáver”, numa tradução mais perfeita, representa a Paixão de Nosso Senhor; e o que é a Eucaristia senão a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário? Se entendermos que as águias, isto é, as almas fiéis, devem permanecer unidas ao Corpo de Nosso Senhor, pela frequência da Santa Missa e da Comunhão, logo se percebe o porquê da advertência contra os falsos profetas, uma vez que estes procuram adquirir credibilidade pelos seus prodígios e ilusões, como diz o Evangelho: “Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isso fosse possível, até mesmo os escolhidos.” (Mt. XXIV, 24) O sinal de que pertencemos a Deus e de que não nos perdemos em vias enganosas é a nossa fidelidade à Santa Missa e à Comunhão eucarística, mas não somente: esta fidelidade inclui a Fé da Igreja e o Rito tanto de uma quanto de outra. Em outras palavras, em tempos de apostasia o católico deve se aproximar muitas vezes da Santa Missa, porque as suas graças se tornam mais do que nunca necessárias quanto há um grande risco de perdição; e como é do interesse do demônio nos iludir inclusive a respeito dos meios da graça, devemos ter sempre diante da inteligência a Fé da Igreja a respeito do Santo Sacrifício do altar e da Presença real de Nosso Senhor, assim como uma profunda veneração pelos ritos com os quais ela adornou tanto a Santa Missa quanto a Santa Comunhão. Quanto mais alguém se afasta dos meios da graça e faz pouco caso da santidade das cerimônias, mais esta alma se torna vulnerável aos falsos cristos.
O sentido sentido do corpo, uma vez que tratamos do Corpo eucarístico de Nosso Senhor, é o Seu Corpo Místico, isto é, a Igreja. Ouvimos no Evangelho que os falsos profetas buscam atrair seguidores aqui ou acolá, no deserto ou numa casa, e que além de operarem falsos milagres também ensinarão falsas doutrinas, enganando a muitos. Não obstante, quando o Filho do homem voltar, a Sua vinda será conhecida do oriente ao ocidente. Do mesmo modo, além da tibieza espiritual, pela qual o demônio conduz as almas a se afastarem do Corpo eucarístico de Nosso Senhor, em tempos de apostasia se multiplicam os erros, que induzem a uma Fé diferente daquela professada pelo Corpo Místico de Cristo. Tais falsos profetas se revelam frequentemente talentosos, de inteligência brilhante e discurso sedutor; mas a sua doutrina não é católica e não conduz ao Corpo Místico, ainda que uma ou outra alma se converta por ocasião da leitura das suas obras—o que seria acidental, já que Deus só permite um mal para dele extrair um bem maior. Donde a necessidade de o católico procurar sempre se manter unido à Igreja pelo estudo, para não se deixar iludir pelos falsos profetas, cujas doutrinas se apresentam sempre muito semelhantes à Fé da Igreja. Todavia, enquanto os falsos profetas se apegam a certos pontos da verdade—a defesa da vida, da propriedade, o combate ao Comunismo, dentre outros pontos—, somente a Fé católica pode salvar, porque somente ela contém toda a verdade, que é íntegra. Assim como na segunda vinda Nosso Senhor será conhecido claramente por todos e os anjos aparecerão com estridentes trombetas, a ponto de as tribos baterem no peito (v. 30); do mesmo modo, a Fé da Igreja não admite penumbra nem dúvidas: quem crê, crê em tudo o que ela ensina, e crê porque ela ensina. Em contrapartida, as doutrinas dos falsos profetas procuram se aparentar com a Fé católica, mas em última instância o critério de verdade é muito mais o falso profeta—cuja inteligência brilhante não pode ser contestada por ninguém—do que a evidência das coisas ou a autoridade de Deus.
Não sabemos quando todos estes sinais descritos no Evangelho ocorrerão. Mas isto não impede que em nossos tempos já se encontram muitos, numerosos falsos profetas, que induzem as almas tanto a uma tibieza quanto a uma apostasia silenciosa. Da fidelidade ao Corpo sacramental e ao Corpo místico depende a nossa salvação e santificação, assim como o nosso apostolado: se queremos combater a crise e vencer a apostasia, comunguemos frequentemente a Eucaristia e estudemos avidamente a nossa sã doutrina.
Padre Ivan Chudzik