O homem, por ter sido criado com uma natureza racional, é a maior de todas as criaturas materiais. Ele é o ponto de união entre o mundo material e o mundo espiritual, e assim, na sua própria natureza, vive como que um conflito entre um corpo, corruptível e sujeito à morte e uma alma incorruptível e desejosa de viver para sempre.
Não contente em dar ao homem essa natureza tão elevada entre as criaturas, Deus quis também resolver no homem esse dilema, fazendo-o participante, de forma totalmente gratuita, da sua própria vida divina, através do dom da Graça Santificante. Todavia, tendo o homem se revoltado contra Deus, pelo pecado original, ele não só perdeu essa Graça, mas ainda contraiu uma culpa e uma pena que deveriam ser impagáveis, dado a dignidade da Pessoa ofendida ser infinita.
Não obstante, Deus enviou seu próprio Filho, que sendo Deus e homem, somente podia pagar essa dívida infinita. Ele pagou com grande abundância, dando a sua vida por nós na cruz.
Ora, se por um lado a morte de Cristo foi suficiente para pagar todos os pecados do mundo, e restituir a graça a todos os homens, por outro lado Deus quis dispor de tal forma as coisas, que para participar dessa Redenção fosse necessário que cada homem fizesse a sua parte.
É justamente nesse contexto que entra o sacramento do Batismo. Ele nos conforma de tal maneira ao Nosso Salvador, que por meio dele, nós nos tornamos membros do seu corpo Místico, que é a Igreja, e Deus nos adota como filhos, e junto de Cristo nos tornamos coerdeiros do céu.
Uma vez assim assimilados a Nosso Senhor, a nós também é aplicada a Redenção que ele operou e por isso recebemos novamente a graça santificante, outrora perdida por Adão, e somos perdoados, tanto do Pecado Original, que recebemos por herança, quanto de todos os pecados atuais que tenhamos cometido, se deles estivermos arrependidos.
Tamanha é a mudança que o sacramento do Batismo opera em nós que, da mesma forma que a Redenção é chamada a segunda criação, ele também é chamado de segundo nascimento: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.” (Jo 3,3). Esse segundo nascimento dá origem em nós a uma vida nova, que é a vida espiritual, ou a vida da graça.
Entre todos esses efeitos maravilhosos que o batismo opera em nós, o mais importante é esse dom da Graça Santificante. Essa graça, como foi dito, consiste numa participação na própria vida divina. Por meio dela, a santíssima Trindade vem habitar em nossa alma, moldando as nossas boas ações de tal forma, que elas adquirem um valor, sobrenatural, infinito, como se fossem feitas pelo próprio Deus, nos fazendo merecedores da vida eterna.
A Graça antecipa aquilo que possuiremos plenamente no Céu. De possuí-la ou não dependerá a nossa salvação quando morrermos. E por isso o batismo, seja ele sacramental, de sangue ou somente de desejo, é absolutamente necessário para nos salvarmos. Essa Graça Santificante, pode ser totalmente perdida durante a nossa vida pelo pecado mortal, que por isso também é chamado de morte espiritual. Se morrermos nesse estado, essa morte espiritual será irreversível e eterna.
A vida da graça recebida no batizado pode variar, por assim dizer, de intensidade. O que se recebe no batismo é como que uma semente dela, a qual, cabe a nós fazer frutificar, ajudados com os auxílios divinos, também chamados de graças atuais. Os santos, são aqueles que de tal modo fizeram frutificar essa graça, que cada um de seus atos se deixava mover por ela. Por isso São Paulo podia dizer: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20).
Fazer frutificar a graça não é reservado somente aos santos, mas é um imperativo para todo o católico enquanto vive. Não havendo esperança de que o candidato ao batismo vá fazer frutificar essa graça durante a sua vida, a Igreja não pode aceitar conferir o sacramento. Dois casos podem nos servir de exemplo: um adulto que quisesse receber o batismo, mas se recusasse a deixar uma vida de pecado, ou então uma criança cujo os pais quisessem batizar, mas não houvesse nenhuma esperança de que eles dessem a ela uma educação católica, em ambos os casos, não se pode dar o batismo.
A Igreja é sábia e para evitar esse tipo de profanação da graça batismal, desde tempos imemoriais quis proteger o sacramento com um catecumenato sério para os adultos e com a preparação prévia dos responsáveis, no caso de uma criança. Mas também o protege de duas outras maneiras: o nome e os padrinhos.
A Igreja pede que o catecúmeno seja batizado com um nome de algum santo para que essa vida espiritual que começa tenha desde o seu princípio um modelo e um protetor celeste, intercedendo por ela diante Deus.
A Igreja pede também que sejam dados padrinhos aos que vão ser batizados. Estes devem ser pessoas católicas e de bons costumes, e observantes das leis da Igreja, de tal maneira que sirvam como exemplo e guia para aqueles que começam na vida da graça, e garantia de uma educação católica caso os pais das crianças batizadas venham a falhar com essa obrigação.
Infelizmente, hoje, essas duas garantias da Igreja são o mais das vezes banalizadas mesmo entre os católicos devotos. Se escolhe o padrinho por amizade independentemente da sua vida moral e espiritual, e se põe o nome sem mesmo se perguntar se a criança terá um santo padroeiro.
Conhecendo o verdadeiro sentido do batismo, prezemos com grande zelo a sermos fieis ao que nele recebemos e façamos o que pudermos para que seja realizado da melhor forma possível o batismo dos nossos filhos e próximos.
Pe. José Luiz Zucchi, IBP.