O Volto Santo de Lucca

Quem entra na catedral de São Martino, na antiquíssima cidade de Lucca, na região da Toscana, na Itália, vê com surpresa, na nave norte, uma espécie de oratório octogonal, todo fechado com grades, formando uma espécie de casinha dentro da Igreja. Trata-se de uma capela em estilo renascentista, de grande valor arquitetônico, construída em 1484 para abrigar o Volto Santo [Santa Face] que é, desde muitos séculos, objeto de grande veneração dos luquenses.tempiett

O Volto Santo é um grande crucifixo em tamanho maior do que o natural, talhado na madeira. Diferentemente do que estamos acostumados a ver, Cristo não é representado em sofrimento, mas com um ar majestoso e vestido, postura comum em antigas representações e que exprime aquilo que já profetizava o salmo: Regnavit a ligno Deus (Deus reinou desde o madeiro).

A origem da imagem é certamente oriental, o que se infere tanto pelo feitio, quanto pelos traços do Crucificado. Ela se encontra em Lucca desde o século VIII e uma antiga tradição, transcrita por volta do ano mil por um diácono chamado Leobino, não só atribui a sua vinda da Palestina a Lucca a uma ação milagrosa, como também atribui a sua autoria a São Nicodemos, aquele fariseu que veio encontrar Jesus durante a noite e mais tarde ajudou a cuidar de Sua sepultura.

volto-santoHá séculos a veneração ao Volto Santo é quase ininterrupta. Para atender ao desejo do povo de venerar dia e noite a estátua milagrosa, foram feitas duas brechas no batente da porta da catedral, que permitiam que a capela fosse vista, mesmo quando a igreja estivesse fechada. A mais importante festa litúrgica era celebrada no dia 14 de setembro (Exaltação da Santa Cruz). Na véspera, todos os habitantes de Lucca e representantes das regiões submetidas a essa cidade, dos 14 aos 70 anos, eram obrigados, sob graves penas, a estarem presentes na Luminara: uma procissão noturna, com velas acesas, para prestar vassalagem ao Volto Santo.

Essa grande devoção que, como tantas outras devoções populares que se esmorecem vertiginosamente em nossos dias, tem o seu fundamento em uma profunda compreensão da nossa Fé. É uma forma santa de se expressar nossa gratidão a Nosso Senhor, pelo que Ele quis sofrer para nos salvar, e a nossa conformidade com a Divina Providência, segundo o que diz São Paulo: “Cristo tornou-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor.

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