Do grande amor que nos tem Maria Santíssima
“Eu amo os que me amam, e os que vigiam desde a manhã por me buscarem, me acharão” Pr 8,17
Sumário
Se uma mãe não pode deixar de amar seus filhos, quanto mais não nos amará a Santíssima Virgem, que no calvário, juntamente com Jesus Cristo, nos gerou para a vida da graça, entre as mais acerbas dores? Ah! Se fosse reunido em um só o amor que todas as mães têm a seus filhos, não igualaria o amor que Maria tem a uma só alma. É justo, portanto, que ao amor da divina mãe corresponda o nosso. Sim, minha santa Mãe, depois de Deus, amo-vos de todo o coração mais que a mim mesmo, e pronto estou a fazer tudo por vosso amor.
I
A fim de compreendermos de algum modo o muito que nos ama nossa boa mãe, Maria, consideremos as principais razões desse amor. A primeira razão é o grande amor que ela tem a Deus. O amor para com Deus e para com o próximo, como diz São João, se contém no mesmo preceito, de sorte que, quanto cresce um, tanto o outro se aumenta. “Nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão” (Jo 4,21). Pelo que, assim como entre todos os espíritos bem-aventurados não há quem ame a Deus mais do que Maria, assim tampouco temos, nem podemos ter, quem, depois de Deus, nos ame mais do que esta nossa mãe amorosíssima.
Além disso, Maria nos ama porque, a fim de nos gerar à vida da graça, sofreu a pena de ela mesma oferecer à morte o seu querido Jesus, consentindo em vê-lo morrer diante dos seus olhos, à força de tormentos. Como frutos, portanto, da oferta dolorosa da Virgem, somos-lhe excessivamente caros, porque lhe custamos tantas angústias e dores. E mais ainda, porque o próprio Jesus Cristo, antes de expirar, nos entregou a ela por filhos, na pessoa de São João, dizendo-lhe como último adeus: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19,26).
Disso nasce uma terceira e mais poderosa razão pela qual somos tão amados de Maria: vem a ser que todos nós somos o preço da morte de Jesus Cristo. Se uma mãe visse um servo remido por um seu filho à custa de trinta anos de prisão e de trabalhos, quanto estimaria o servo por esta só consideração! Quanto mais deverá então a divina mãe estimar nossas almas, vendo que o Verbo Eterno não desceu do céu à terra e se fez seu Filho senão para as salvar a custa de todo o seu sangue. “Eu vim salvar o que estava perdido” (Lc 19,10).
II
“Acaso pode uma mulher esquecer-se de seu filhinho?” (Is 49,15). Se uma mãe, assim nos diz a Virgem, não pode deixar de amar o fruto de suas entranhas, quanto menos poderei eu esquecer-me de vós, meus filhos diletíssimos, eu, que tantas razões especiais tenho de vos amar? Ah! Se o amor que todas as mães têm aos filhos, todos os esposos a suas esposas, e todos os anjos e santos a seus devotos, se unisse em um só amor, não chegaria a igualar o amor que Maria tem a uma só alma. É, pois, de justiça que ao amor de Maria respondamos com o nosso.
Sim, minha Mãe amabilíssima, é mais que justo que eu vos ame! Não quero descansar, enquanto não estiver certo de ter alcançado o amor, mas um amor constante e terno para convosco, ó minha Mãe, que com tanta ternura me tendes amado, ainda quando eu vos era tão ingrato. Que seria agora de mim, se não me tivésseis amado e alcançado tantas misericórdias?
Eu vos amo, minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos aqueles infelizes que não vos amam. Quisera ter uma língua que pudesse louvar-vos por mil, a fim de fazer conhecer a todos a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia e o amor com que amais aqueles que vos amam. Se eu tivesse riquezas, todas as dispenderia em honra vossa. Se tivesse súditos, quereria fazê-los todos amantes vossos. Quereria finalmente, por vosso amor e para glória vossa, dispender até a vida, se necessário fosse.
Em suma, minha Mãe, desejo primeiro aqui na terra, e em seguida no céu, ser, depois de Deus, quem mais vos ame. Se esse desejo é demais audaz, é porque vossa amabilidade e o amor especial que me haveis demonstrado me inspiram. Aceitai-o, pois, ó Senhora, e em prova de que o aceitastes, obtende-me de Deus o amor que vos peço, visto que tanto agrada a Deus.
Extraído de “Meditações para todos os dias do ano” – Tomo II
Por Santo Afonso Maria de Ligório