O glorioso Santo Antônio é grande exemplo de um santo popular. Embora tenha nascido em Lisboa (Portugal), entre os anos de 1191 e 1195, seu culto começou em Pádua (Itália), onde morreu aos 36 anos muito doente e consumido pela pregação e oração. Na época, já houve grande discussão sobre a posse de seus restos mortais e o povo já o aclamava como santo, recebendo visita de peregrinos de todas as partes [1]. Do dia de sua morte até o dia de sua canonização pelo Papa Gregório IX, não se passou nem um ano completo.
Mas quem é este santo que tem tantos fieis espalhados por todo o mundo?
Santo Antônio, cujo nome original era Fernando, nasceu no seio de uma família portuguesa, nos arredores de onde hoje se localiza a Igreja da Sé de Lisboa e, onde posteriormente foi construída uma Igreja em sua honra, onde se encontram três relíquias de ossos do santo. Em virtude da parca documentação, por muito tempo não se sabia o nome de seus genitores. Contudo, por volta do século XIV e a partir da tradição oral, passou a se atribuir sua filiação a Martim ou Martinho de Bulhões e a Maria Teresa Taveira [2].
Fernando fez seus primeiros estudos na Escola Episcopal anexa à Catedral de Lisboa, ingressou no Mosteiro de São Vicente, passando depois ao Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde foi ordenado sacerdote agostiniano. Em 1220 deixa a Ordem Agostiniana para se tornar o Frei António, da Ordem Franciscana, onde revela “sua doutrina bíblica, seu ardor e sua arte oratória” [3]. Duas obras importantes por ele deixadas são: Sermones per Annum Dominicales (1227-1228) e In Festivitatibus Sanctorum Sermones (1230) [4]. Por sua eloquência, intelectualidade e contribuição teológica, foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XII, em janeiro de 1946.
A devoção popular coloca Santo Antônio entre os santos mais queridos e venerados da Religião Católica. É considerado o patrono dos pobres, dos enamorados, dos casamentos, dos viajantes e invocado em todas as necessidades, inclusive para encontrar bens perdidos e obter coragem frente às provações. Sua poderosa intercessão é relatada no célebre responsório Si quaeris miracula, composto em 1235 pelo Frei Juliano de Spira [5] como parte do “Officium rhythmicum s. Antonii” (Ofício rítmico em honra de Santo Antônio”) e repetido até os dias de hoje na sua Trezena.
Santo Antônio morreu em uma terça-feira, sendo este, portanto, o dia que os franciscanos reservam semanalmente para sua devoção, ao longo de todo ano. Além disso, treze dias antes do dia de sua morte, quando se celebra oficialmente sua entrada na glória de Deus, ocorrida em 13 de junho de 1231, tem início a famosa “Trezena de Santo Antônio”.
Durante os dias da Trezena, são feitas leituras diárias sobre a vida e os ensinamentos do taumaturgo [6]. Dentre as orações tradicionais, destaca-se a supracitada Si quaeris miracula, e o Exorcismo de Santo Antônio ou Lema de Sto. Antônio, cuja tradição popular conta que foi a oração dada pelo santo a uma mulher que sofria perseguições do demônio. Esta bênção tem um valor garantido por suas raízes bíblicas, pois é tirada da parte central do Livro do Apocalipse (Ap 5.5). O Santo Padre Sisto V, Papa franciscano, mandou esculpir esta oração na base do obelisco que está na Praça de S. Pedro, em Roma.
Os milagres atribuídos a Santo Antônio são muitos e, frequentemente, são recordados por ocasião de sua Trezena. O beneditino Dom Gilvan Francisco dos Santos relata que “seus sermões eram seguidos de milagres como nunca se viam desde o tempo dos apóstolos” [7]. Dentre tantos milagres, alguns se destacam:
1) A pregação aos peixes: aconteceu na cidade italiana de Rimini, quando hereges impediram o povo de ouvir seus sermões e ele foi pregar à beira-mar, onde milhares de peixe colocaram a cabeça para fora da água só para ouvir o santo. Por sua luta contra a heresia, era conhecido como “O martelo dos hereges”.
2) A Adoração do Santíssimo Sacramento por uma mula: um infiel que negava a Presença Real de Jesus na Eucaristia desafiou Santo Antônio. Disse que deixaria a besta três dias sem comer para ver se deixaria o feno e a aveia oferecidos para adorar a Jesus. Neste dia, o povo viu uma mula faminta recusar os alimentos e se prostrar diante de Santo Antônio com o Santíssimo Sacramento nas mãos.
3) A honra de carregar o Menino Jesus: uma vez, hospedado em casa de amigos, o dono da casa decidiu averiguar de onde vinha luz tão intensa do quarto onde estava Santo Antônio. Ao se aproximar, pode ver os bracinhos do Menino Deus circulando o pescoço do santo, enquanto conversavam amigavelmente. Daí o motivo de ser Antônio um dos poucos santos que tem a honra de ser representado segurando ao colo o Filho de Deus.
Outra tradição relacionada ao santo é conhecida como o “Pão de Santo Antônio”, que inicialmente se referia a uma esmola dada aos frades franciscanos para que providenciassem alimento aos pobres. Recorda ainda, a vez em que o santo deu todos os pães do convento aos mais necessitados. Ao ser questionado sobre o que comeriam, mandou que olhassem novamente na despensa, que já estava repleta de pães. Ao fim das celebrações da Trezena de Santo Antônio, são abençoados pequenos pães para serem distribuídos a todos os presentes. Também são comuns a bênção da água e dos objetos de piedade.
Até os dias de hoje, a grandeza de Santo Antônio como ilustre pregador é reverenciada por estudiosos, fiéis e pelos Santos Padres da Santa Madre Igreja. Em Roma, na Audiência Geral de 10 de Fevereiro de 2010, o Papa Bento XVI proferiu as seguintes palavras:
(…) possa Antônio de Pádua, tão venerado pelos fieis, interceder pela Igreja inteira, e sobretudo por aqueles que se dedicam à pregação; oremos ao Senhor para que nos ajude a aprender um pouco desta arte de Santo António. Os pregadores, inspirando-se no seu exemplo, tenham a preocupação de unir doutrina sólida e sã, piedade sincera, incisiva na comunicação.
Que assim seja! Que o glorioso Santo Antônio seja nosso intercessor em todas as necessidades e que, com sua ajuda, possamos seguir os verdadeiros ensinamentos da Fé católica. Paz e bem!
REFERÊNCIAS:
1 KALBERER, Augustine. Lives of the saints: Daily Readings. Chicago: Franciscan Herald Press, 1975.
2 LOPES, Fernando Félix. Santo António de Lisboa, Doutor Evangélico. Braga: Editorial Franciscana, 1980, 3,ª edição 3 Site Franciscanos. Disponível em: http://franciscanos.org.br/?p=18116.
4 BOLÉO, Maria Luis V. Paiva. Retalhos da Vida de um Pregador. Igreja de Santo António. Disponível em: https://www.stoantoniolisboa.com/vida-de-santo-antonio
5 Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. Sto. António, o mais popular de todos os santos. Disponível em: http://www.snpcultura.org/antonio_o_mais_popular_de_todos_os_santos.html
6 Denominação destinada apenas aos santos que realizaram milagres.
7 SANTOS, Gilvan Francisco dos. Santo António de Pádua: Martelo dos Hereges. Disponível em: http://dimensaodaescrita.blogspot.com/2016/06/vida-de-santo-antonio-da-padua-ou-lisboa.html