Maria Santíssima, modelo de pobreza
“Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres” Mt 19,21
Sumário
O divino Redentor, para nos ensinar a desprezar os bens do mundo, quis sempre ser pobre nesta terra. E a Santíssima Virgem seguiu-lhe o exemplo, mostrando-se a sua discípula mais perfeita, porque ela também nasceu, viveu e morreu na maior pobreza. Somos nós também amantes de tão bela virtude e dos incômodos que a acompanham? Esforcemo-nos a todo custo por imitar a nossa querida Mãe, lembrando-nos de que o que ama as comodidades e as riquezas nunca será santo.
I
O nosso amoroso Redentor, para nos ensinar a desprezar os bens mundanos, quis ser pobre neste mundo. Por isso, Jesus exorta a todo aquele que queira segui-lo a que venda todos os seus haveres e distribua o produto entre os pobres: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres… Depois vem e segue-me”. Eis como Maria, a sua discípula mais perfeita, lhe seguiu exatamente o exemplo. Afirma o bem-aventurado Canísio, que a Santíssima Virgem, com a herança de seus pais, teria podido viver muito comodamente, mas preferiu ficar pobre, reservando para si uma pequena parte, e distribuindo o mais em esmolas ao templo e aos pobres.
Querem muitos escritores que Maria tivesse feito também voto de pobreza, e sabe-se que ela mesma revelou a Santa Brígida, que desde o princípio da sua vida prometera no coração nunca possuir alguma coisa no mundo. Os dons que recebeu dos santos magos não foram certamente de pouco valor, mas distribuiu-os todos aos pobres, como atesta São Bernardo. Isto se deduz também de que ela, indo ao templo, não ofereceu o cordeiro, que era a oferta das pessoas abastadas, mas dois pombinhos, a oferta dos pobres. Maria mesma disse a Santa Brígida: “Tudo o que podia obter, eu dava-o aos pobres, e não reservei nada para mim, senão um tênue alimento e o vestido”.
Por amor a pobreza a Virgem não duvidou desposar-se com um pobre oficial, qual foi São José, e depois sustentar-se com o trabalho de suas mãos, fiando ou cozendo, como atesta São Boaventura. Numa palavra, as riquezas do mundo foram para Maria como que lodo, e ela sempre viveu pobre e morreu pobre. Na morte não se sabe que deixasse outra coisa além de duas pobres vestes, que deu a duas mulheres que a haviam servido em vida.
II
Quem ama os bens do mundo, nunca se fará santo, dizia São Felipe Néri. E Santa Teresa acrescentava: “É justo que quem vai atrás das coisas perdidas, também se perca”. Por outro lado, dizia a mesma Santa que a virtude da pobreza é um bem que encerra todos os outros bens. Disse – a virtude da pobreza – a qual, como observava São Bernardo, não consiste em ser somente pobre, mas em amar a pobreza. Pelo que Jesus Cristo disse: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Bem-aventurados, sim, porque aqueles que não querem senão a Deus, em Deus acham todos os bens, e encontram na pobreza o seu paraíso na terra.
Amemos, pois, aquele único bem em que se acham todos os bens, conforme exortava Santo Agostinho, e peçamos ao Senhor com Santo Inácio: “Meu Deus, dai-me somente o vosso amor com a vossa graça, e sou bastante rico”. E quando nos aflige a pobreza, consolemo-nos com o pensamento que Jesus e sua divina Mãe foram também pobres como nós.
Ah, minha Mãe Santíssima, bem tivestes razão de dizer que em Deus estava vossa alegria: “E meu espírito alegrou-se em Deus meu Salvador”, porque nesse mundo não ambicionastes nem amastes outro bem senão Deus. Senhora, desapegai-me do mundo e arrastai-me atrás de vós, para amar só Aquele que merece ser amado. E vós, ó meu Jesus, vinde pelo vosso amor consumir em mim todos os afetos que não sejam para Vós. Fazei com que no futuro eu não atenda senão a Vós, não pense senão em Vós, não suspire senão por Vós. Fazei, numa palavra, com que imitando a virtude de Vossa querida Mãe e minha grande Rainha, eu morra a todos os bens da terra e a todas as minhas inclinações, para não amar senão a vossa bondade infinita e não desejar senão a vossa bondade infinita e não desejar senão a vossa graça e o vosso amor.
Extraído de “Meditações para todos os dias do ano” – Tomo II
Por Santo Afonso Maria de Ligório