Nosso Divino mestre, por ser Deus sendo Homem, não pode ser limitado a uma única definição, antes, são inúmeros os nomes que lhe são atribuídos, cada um ressaltando algo da sua santidade inesgotável. Dentre os nomes que Ele mesmo se atribuiu está o de Bom Pastor, e é no segundo domingo depois da Páscoa que a Igreja O venera especialmente sob essa invocação.
De fato, por diversas vezes tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, se fala de Nosso Senhor como o Bom Pastor. David diz no conhecido Salmo 22 “O senhor é o meu Pastor” e Jeremias compara o Messias ao pastor que reunirá e conduzirá o rebanho disperso de Israel (Jr 23).
No Novo Testamento há uma parábola fundamental em São João, onde Nosso Senhor afirma “Eu sou o Bom Pastor, o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” e em seguida: “[As ovelhas] ouvirão a minha voz e haverá um só pastor e um só rebanho”.
De todos esses textos e de tantos outros correlatos da Sagrada Escritura, sobressaem duas características principais do Bom Pastor: Através da sua Doutrina, o Bom Pastor guia as ovelhas unidas ao único verdadeiro redil, e o Bom Pastor ama as suas ovelhas a ponto de sacrificar a própria vida por elas.
Quanto à primeira característica, Nosso Senhor disse: “Tenho ainda outras ovelhas que não são desse aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor”. É a voz do pastor que guia as ovelhas para o aprisco e que traz de volta as ovelhas desgarradas para junto de si. Assim também é a Doutrina de Cristo que traz os homens para a unidade de sua Igreja e a conduz Una ao longo de toda sua história.
Mais ainda, não contente de ter ensinado uma vez, Cristo quis que sua voz ecoasse ao longo da história por meio dos ministros que ele constituiu seus sucessores no seio da Igreja. De tal forma que Ele disse aos apóstolos “Quem vos ouve, a mim ouve e quem vos despreza a mim despreza”. Ou seja, através dos apóstolos e seus sucessores, representantes nessa Terra do Bom Pastor, as ovelhas de Cristo continuam a ser guiadas por essa doutrina transmitida pela tradição de sua Igreja.
É interessante notar, reforçando essa característica do Bom Pastor, que Jesus usa essa mesma analogia ao confirmar São Pedro no seu ministério de Vigário de Cristo:
Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
A necessidade da fidelidade ao ensinamento de Nosso Senhor é tão grande, para que o pastoreio seja bom, que Ele se certifica por três vezes que São Pedro seria fiel enquanto lhe confia as ovelhas.
É notável também a forma como Cristo continua a falar com São Pedro:
Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que havia de glorificar a Deus.
Por que é que depois de ter confiado todo o seu rebanho a São Pedro Nosso Senhor fala do martírio que o santo devia sofrer? Porque, como pastor, Ele deveria imitar o seu modelo divino também na segunda principal característica, o sacrifício.
A missão do Bom Pastor é inseparável do sacrifício no qual Ele se ofereceu como vítima voluntária para salvar suas ovelhas. Nesse sentido, a parábola do Bom Pastor continua dessa forma:
O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai.
Também esse seu Sacrifício, quis Cristo que se perpetuasse na História através da sua Igreja. Por isso logo antes de sua morte, e já antecipando-a ele instituiu a Santa Missa dizendo aos apóstolos que fizessem da mesma forma: “Fazei isso em memória de mim”.
O Instituto Bom Pastor, que é um Instituto sacerdotal, busca imitar no ministério de seus padres o modelo divino do Bom Pastor nessas duas principais características: sua doutrina e seu sacrifício. Isso traduz-se, na prática, em uma fidelidade inabalável à Doutrina de Nosso Senhor, tal como ela foi transmitida ao longo dos séculos pela Tradição da Igreja e pela celebração exclusiva do Rito Romano na sua forma antiga, como uma expressão máxima da teologia sacrificial da Santa Missa, também ela transmitida ao longo dos séculos pela Tradição da Igreja.
Que o Bom Pastor nos abençoe todos nesse segundo domingo depois da Páscoa!
Pe. José Zucchi