A História do Presépio

A festa da Epifania, nos lembra a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo ao homens depois de ter nascido desconhecido de quase todos na gruta de Belém. Essa manifestação se deu, antes da sua vida pública, especialmente em três momento: Na adoração dos Magos, no seu primeiro milagre durantes as Bodas de Caná e no seu Batismo no Jordão, por São João Batista e são esses três momentos comemorados na festa da Epifania

A liturgia através de seus textos, reserva o dia 6 de janeiro especialmente para a comemoração do primeiro e, por isso no Brasil, ficou conhecido como Dia de Reis, enquanto as bodas são lembradas no domingo dentro da oitava e o batismo no dia 13 que é tradicionalmente o dia da oitava da Epifania, seguindo o velho princípio de que a oitava é uma prolongação de uma festa importante durante oito dias.

É nesse dia de Reis então, que comemoramos a chegada dos Magos para adorar o Menino: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Por isso que é tradição em muitos lugares, aguardar até esse dia para aproximar, nos presépios, os reis magos do menino Jesus, cujas estátuas até então se mantinham a distância. Claro que essas tradições não são uniformes no mundo inteiro, no Brasil mesmo há quem use o dia de reis para desmontar os presépios.

Seja como for, já que a ocasião é propícia, busquemos compreender melhor essa tradição de montar presépios, tão arraigada na nossa cultura, para que possamos dela tirar mais frutos.

Conta-se que na noite de Natal do ano de 1223, são Francisco de Assis se encontrava em Greccio, coberta pela neve de um inverno rigoroso. Enquanto ele pregava sobre o mistério que se comemorava naquela noite, lhe veio a idéia de representá-lo de forma mais realista, para melhor ilustrar o que dizia. Às suas ordens, então, foram trazidos um boi, um burro, uma manjedoura com palha e uma estátua do Menino Jesus.

Tendo pego o Santo a estátua nos braços, com tanta devoção a ia deitando na manjedoura, que diante de todos a estátua tomou vida e sorriu para ele. Em seguida a imagem abençoou o povo que se colocava de joelhos, espantado com o milagre. São Francisco abraçou então o menino e tendo-o deitado na manjedoura, voltou a estátua a ser como antes, inanimada. A tradição de se montar o presépio, a partir desse momento, se renovou todos os anos em Greccia e daí se espalhou para o mundo inteiro.

O tamanho das imagens bem como a quantidade delas varia no tempo e no espaço, desde os presépios napolitanos que podem tem centenas de peças até os pequenos presépios de nossas casas. Os personagens entretanto que nunca podem faltar são os membros da Sagrada Família: O Menino Jesus numa manjedoura, Nossa Senhora e São José. De fato, essa configuração vem desde o texto sagrado de São Lucas que diz: “Os pastores diziam entre si: Vamos até Belém, e vejamos o que é que lá sucedeu, e o que é que o Senhor nos manifestou. E foram com grande pressa; e encontraram Maria e José, e o menino deitado na manjedoura (em latim præsepio). E vendo isso, conheceram o que lhes tinha sido dito acerca deste menino.”

Deste mesmo texto vem a presença dos pastores no presépio.  Junto com esses pastores certamente se encontravam ovelhas e por isso é comum que elas também estejam representadas. Não é um acaso que o nascimento de Jesus tenha sido anunciado primeiramente aos pastores. O interesse de pastores pelo nascimento do Salvador, enquanto os sábios de Jerusalém e Herodes tramavam sua perdição, nos faz pensar na frase de Nosso Senhor: “Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram (…) Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas.” (Jo 10)

Os anjos do presépio são os que anunciaram aos pastores o nascimento de Jesus. Por isso é comum que um deles esteja segurando uma placa escrita “Gloria in excelsis Deo”, que foi o cântico entoado por eles nesse dia. Na liturgia a relação entre esse cântico e os anjos é tão acentuada, que toda missa dedicada aos anjos, ainda que votiva, possui o hino Gloria in excelsis Deo.

O boi e o burro, a pesar de estarem já no primeiro presépio, não são citados pelos evangelhos, mas aparecem somente em documentos mais tardios, como um sarcófago do sec. IV onde eles estão esculpidos ao lado do Menino Jesus. De qualquer maneira, a presença deles no presépio também lembra que as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias se cumprem em Nosso Senhor, fazendo referência ao seguinte texto de Isaias: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento o presépio do seu dono, mas Israel não me conheceu, e o meu povo não teve inteligência.”

Por fim os Rei Magos, cuja festa e a entrega dos presentes celebramos na Epifania, talvez sejam as figuras mais misteriosas dos evangelhos. Citados por São Matheus nesta única referência à eles nas Escrituras (Mt 2, 1-12), neles se cumpre a profecia de Isaias: “ [Jerusalém], ver-te-ás inundada duma multidão de camelos, de dromedários de Madian e de Efa; todos virão de Sabá, trazendo-te ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor”, texto amplamente usado na liturgia da Epifania. Mais do que isso, o chamado divino através estrela, para que eles viessem adorar o Menino, mostra que a salvação conquistada por Cristo não se limitaria ao povo judeu, mas se estenderia a todos os povos. É comum que se represente junto com os magos, não só os seus presentes, mas ainda camelos, dromedários, criados, e ainda a estrela milagrosa que os guiou até Belém.

O presépio para nós católicos deve ser mais do que uma tradição, que como tantas outras no nosso mundo moderno, se esvazia pouco a pouco do seu sentido e termina desaparecendo ou sendo substituída por algo pagão. Cada peça tem o seu significado, e o cuidado que temos em montá-las e ordená-las a cada ano, deve ter sobre nós o mesmo efeito que teve sobre os pastores vendo o verdadeiro presépio: fazer-nos reconhecer em Nosso Senhor junto a Nossa Senhora, nossa única esperança de salvação.

Pe José Zucchi

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